De coração para você, que está passando por isso…
Eu sei como é difícil perceber que alguém da sua família não recebeu o cuidado que precisava. A incerteza, o medo e a sensação de que “algo ficou faltando” machucam demais.
Falo não só como advogada, mas como filha e como alguém que já acompanhou situações médicas delicadas na própria família. Sei como é angustiante buscar respostas, perceber a piora e ainda sentir que o hospital não deu atenção e suporte que era necessário.
E infelizmente, isso acontece mais do que deveria — tanto no SUS quanto na rede privada. Por isso, decisões recentes da Justiça têm reconhecido que falhas no diagnóstico, como alta precoce, exames insuficientes ou atendimento superficial, podem gerar responsabilidade do hospital.
Este artigo é para você entender:
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o que realmente configura erro de diagnóstico.
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quando existe responsabilidade do hospital.
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que provas são essenciais.
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e como funciona o processo para buscar seus direitos.
Se o Hospital errou no diagnóstico, você não está sozinho. Vamos entender tudo isso, passo a passo.
O que é um “erro de diagnóstico”?
O erro de diagnóstico não se resume a “o médico não acertou a doença”. Medicina não é ciência exata, e erros podem acontecer mesmo com conduta técnica adequada.
O que gera responsabilidade indenizatória é a falha na prestação do serviço, como:
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não solicitar exames essenciais diante de sintomas graves;
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não investigar corretamente queixas persistentes;
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liberar alta sem condições clínicas;
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atrasar avaliação especializada;
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desconsiderar piora evidente do paciente;
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atendimento superficial e apenas “protocolar”
Quando essas falhas contribuem para agravamento do quadro, sequelas ou morte, o hospital pode ser responsabilizado judicialmente.
📌 Decisões judiciais recentes confirmam isso: quando a falta de investigação adequada leva à perda de chance terapêutica ou ao agravamento do quadro, o dever de indenizar é reconhecido.
Quem pode ser responsabilizado pelo erro de diagnóstico?
- Hospitais
Na maior parte dos casos, é considerada a responsabilidade objetiva! Ou seja, não é preciso provar culpa do hospital, apenas:
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que ocorreu falha do serviço
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o dano causado ao paciente;
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a relação entre a falha e o dano. Por exemplo: atestado médico, o próprio prontuário que o paciente esteve naquelas condições em determinado dia…
Isso decorre do art. 37, §6º da Constituição Federal, aplicável a municípios e entidades privadas que administram hospitais conveniados ao SUS.
➡️ Portanto, mesmo que o hospital seja administrado por fundação, OS ou entidade conveniada, o município continua responsável solidariamente!
Em algumas outras situações, a responsabilidade do hospital pode ser considerada subjetiva, exigindo comprovação de negligência, imprudência, ou imperícia, no próprio processo.
- Médicos individualmente
Podem ser responsabilizados, mas somente quando há prova clara de conduta inadequada, distinta de problema estrutural do hospital.
Na prática, muitos processos recaem apenas sobre o hospital, porque a falha decorre do sistema, e não do profissional isoladamente.
Quais provas são necessárias para processar um hospital por erro de diagnóstico?
Este ponto é muito importante! Cuidado com “aventuras jurídicas”. A minha recomendação é sempre focar e cuidar bem dos registros e documentos médicos! Eles são essenciais para este tipo de ação.
🧾 Documentos essenciais:
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Prontuário médico completo
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Exames realizados
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Relatórios de internação e evolução
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Prescrições e receitas
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Atestado de óbito (se houver)
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Registros de idas repetidas ao hospital
Provas complementares
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Depoimentos de familiares sobre evolução dos sintomas
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Mensagens ou anotações sobre atendimentos
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Notas fiscais de consultas particulares posteriores
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Registro de reclamações internas (se houver)
📌 Fica a dica: Tribunais dão grande importância ao prontuário: se há inconsistência, ausência de informações ou lacunas, isso geralmente joga a favor da vítima.
Exemplos de falhas que costumam gerar indenização
Embora cada caso seja único, certas situações se repetem nos processos julgados no Brasil, quando o hospital errou o diagnóstico:
✔ Alta precoce
Quando o paciente é liberado sem melhora clínica ou sem exames para excluir hipóteses graves.
✔ Falta de exames essenciais
Casos em que sintomas importantes são subestimados e exames como tomografia, raio X ou exames laboratoriais não são solicitados.
✔ Piora ignorada
Retornos repetidos ao pronto-socorro sem reavaliação adequada são indícios fortes de negligência.
✔ Diagnóstico superficial (“gases”, “ansiedade”, “virose”)
Quando sintomas graves são tratados com explicações simplistas, sem investigação compatível.
✔ Demora injustificada na transferência
Especialmente em municípios onde exames avançados não estão disponíveis na mesma unidade.
📌 Você sabia? Em diversas decisões, inclusive de tribunais estaduais, juízes concluíram que a falta de investigação adequada é tão grave quanto um diagnóstico errado.
Passo a passo: como processar um hospital por erro de diagnóstico
📝 Hora de anotar (ou tirar o print!):
1. Solicite o prontuário médico
É direito do paciente e da família! Dica: hoje em dia, a maioria dos prontuários já são eletrônicos e enviados por email. Entre em contato com o hospital e verifique o canal responsável para realizar esta solicitação e guarde o protocolo ou comprovante de solicitação!
Se houver recusa, a advogada pode pedir judicialmente, ok?
2. Organize uma linha do tempo
Liste datas, sintomas, retornos ao hospital e piora do quadro.
3. Reúna documentos e testemunhas
Registros familiares ajudam a demonstrar a evolução do quadro e a insuficiência do atendimento.
4. Consulte uma advogada especializada
Processos contra hospitais exigem conhecimento:
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técnico-médico,
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jurídico,
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e experiência em perícias.
5. A advogada ingressa com a ação
A petição vai incluir:
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falhas identificadas,
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provas,
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pedido de danos morais e/ou materiais
(despesas ou prejuízos financeiros que o paciente sofreu).
6. Juiz decide
Com base nos documentos, possível perícia médica, o magistrado fixará na sentença:
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se houve falha,
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quem é responsável,
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e qual o valor da indenização.
💰 Quanto posso receber de indenização?
Essa dúvida é muito comum, mas importante destacar que os valores variam bastante, especialmente porque cada situação tem um contexto e impacto diferente, mas os Tribunais levam em conta principalmente:
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a gravidade da falha;
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consequência (agravamento, sequelas ou morte);
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impacto emocional nos familiares;
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condições das partes;
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caráter pedagógico da condenação.
No Brasil, indenizações por erro de diagnóstico costumam variar:
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R$ 15 mil a R$ 50 mil (agravamento moderado)
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R$ 50 mil a R$ 200 mil (morte ou sequelas graves)
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Acima de R$ 300 mil em casos excepcionais
Esses números são baseados em padrões de julgamentos em Tribunais de todo o país, nos últimos dez anos, não em tabelas oficiais.
A Justiça tem reconhecido que a falta de investigação viola a dignidade do paciente, gera risco grave e merece compensação.
Fique atento aos seus direitos!
Quando há falha na investigação médica, atraso em exames ou alta precoce, o erro de diagnóstico deixa de ser “um contratempo” e passa a ser uma violação real ao direito fundamental à saúde.
A Justiça brasileira tem reconhecido — repetidamente — que o paciente não pode arcar sozinho com as consequências de um atendimento que não investigou como deveria.
E quando essa falha gera agravamento do quadro, sequelas ou até a perda de alguém querido, há sim caminhos para buscar reparação e justiça.
💌 Mensagem final
Querida leitora, querido leitor:
Eu sei que chegar até aqui não é leve.
Lidar com doença, dúvidas e sensação de que o atendimento não foi completo mexe com tudo: com a rotina, com o emocional e com a nossa confiança no sistema de saúde.
Mas você não está sozinho. Você não está sozinha.
Se houve falha no diagnóstico, você tem direitos, e existem maneiras seguras de protegê-los.
Informação é o primeiro passo para transformar dor em força, incerteza em orientação e indignação em ação responsável.
Cuide de si. Busque apoio. Questione quando algo não parece certo.
E lembre-se: sua saúde, e a saúde de quem você ama, merece respeito, atenção e responsabilidade.
Com acolhimento e firmeza,
Advogada Rita Soares
📩 Email: contato@ritasoares.adv.br
📸 Instagram: @advogadaritasoares
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FAQ — Perguntas frequentes
1. Todo diagnóstico errado é erro médico?
Não. Só há erro quando há falha no atendimento, como falta de exames essenciais ou alta indevida.
2. Processos contra hospitais públicos são mais difíceis?
Não necessariamente. A responsabilidade é objetiva, o que facilita a comprovação.
3. Posso processar sem pagar advogado?
Sim. É possível pedir justiça gratuita e recorrer à Defensoria Pública.
4. Preciso do prontuário para iniciar o processo?
Ajuda muito, mas não é obrigatório. O juiz pode determinar que o hospital apresente.
5. Quanto tempo demora um processo?
Em média, 2 a 5 anos, dependendo da perícia.
6. É possível acordo?
Sim, especialmente em hospitais privados.
7. Se o paciente morreu, quem pode processar?
Cônjuge, filhos, pais ou dependentes.
📚 Fontes consultadas
Procedimento Comum Cível 0009653-02.2013.8.26.0477 – TJSP
Aviso: Este artigo tem caráter informativo e não substitui a orientação de um profissional qualificado.
